FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A INCLUSÃO

Formação de professores e a inclusão

Partamos do caso fictício de um método X e de método Y que tenham por função ensinar a calcular a fórmula de Bháskara. Digamos que tenhamos mil estudantes para ensinar e eu decida avaliar que método é mais eficaz e divida, por sorteio, os estudantes em dois grupos e que faça uma avaliação deles antes de qualquer coisa, o que me indica que eles possuem o mesmo nível de domínio da matemática. Nesta hipótese, aplico a um grupo o método X e a outro o método Y. Após esta aplicação, faço uma nova avaliação e verifico que os estudantes que aprenderam com o método X conseguiram resolver a equação enquanto os que foram submetidos ao método Y não foram tão bem-sucedidos. Digamos ainda que repitamos este experimento com outros grupos de estudantes com os mesmos resultados e depois comparamos o método X com todos os outros métodos de ensino da fórmula de Bháskara, sempre com uma aprendizagem mais expressiva dos alunos que passaram pelo método X.

Partindo desta premissa, podemos dizer que o método X seja superior aos demais testados? Se queremos ensinar fórmula de Bháskara, deveríamos estudar o método X ou podemos utilizar o que bem entendermos?

A resposta seguramente mais popular entre pesquisadores de educação seria algo como “1. Claro que não, existem muitas outras formas de se pensar um método, medir os resultados do ensino é reduzir o ser humano…..; 2. Não podemos privilegiar um método, pois a complexidade humana não se resume a um método…”. Trata-se, evidentemente, de uma postura radicalmente anticientífica (com origem em uma forma de pensamento a que denominamos de pós-modernismo). Eu poderia discutir estas afirmações, que a meu ver são falaciosas, mas não temos aqui espaço para isso, então prefiro apontar isso para expressar um outro ponto de vista.

É decorrente desta visão hegemônica na educação que advém a formação docente, que é focada em discursos abstratos que não se comunicam com o fazer escolar, deixando os professores sem uma formação realmente operacional para o fazer docente. Quando se trata do processo de inclusão escolar, a situação é ainda mais grave, pois o tempo de formação sobre o tópico é exíguo e sempre baseado em discursos sem a função de preparação didática, diz-se que na Antiguidade, em Esparta, jogavam as crianças com deficiência do monte, que na Idade Média tratavam-nas como objeto de caridade, na modernidade eram segregadas e agora, finalmente, somos todos inclusivos, pelo poder e graça de Salamanca, é um roteiro de conversão atitudinal e não um de preparação profissional. Após esse discurso repetitivo, as várias deficiências são descritas e a disciplina é encerrada. Como ensinar de modo competente esta população simplesmente não é um tema.

Ademais, os professores mais aguerridos e comprometidos, que vão a cursos, palestras, congressos, fazem pós e compram livros, encontram quase sempre unicamente o discurso atitudinal. O pressuposto é que a verdadeira inclusão se dá quando os docentes tiverem uma mudança atitudinal, enquanto a técnica é má e conservadora.

Esta visão se contrapõe a uma leitura científica da inclusão escolar, que pressupõe que as afirmações devem ser testadas. Partindo desta ideia, estabelece-se processos de inclusão, avaliando quais práticas são mais ou menos eficazes (ou seja, em uma leitura científica, a técnica é imprescindível), assim, faz sentido que a universidade deveria ensinar as metodologias que possuem a melhor evidência para que os professores fossem capazes de replicarem estas melhores práticas a partir das necessidades individuais de cada criança e que as escolas e sistemas priorizassem estas práticas com evidência.

A saber, as práticas pertinentes à educação com a melhor evidência na atualidade são advindas em uma ciência denominada Análise do Comportamento Aplicada – ABA e elas não aparecem em formação docente, nem mesmo na maior parte das pós-graduações em Educação Especial e sua produção e disseminação mantém-se quase sempre fechada nos programas de Psicologia e não de Educação.

O jogo usual de “de quem é a culpa”, com frequentes dedos apontados para os professores, não me parece verdadeiro. É preciso não simplificar o debate complexo, dando a cada qual o mérito e a culpa que merecem, envolvendo professores, gestão escolar, acadêmicos, políticos e claro, o povo, que é quem escolhe os governantes que aplicam esta ou aquela política, que é onde me parece que seja o ponto ideal para a quebra deste círculo vicioso.

Nos EUA, em 2001 foi aprovada a lei denominada Nenhuma Criança Deixada Para Trás (No Child Left Behind), que estabelece que só são permitidas práticas com evidência na utilização de recursos das escolas públicas do país. Para que a lei fosse levada à cabo, estabeleceu-se um conjunto de estímulos financeiros à pesquisa, especialmente na elaboração de Revisões Sistemáticas, com o escrutínio das pesquisas empíricas mais rigorosas e com os critérios adotados pelas instituições mais respeitadas na área, descrevendo, por fim, quais são as tais Práticas Baseadas em Evidências para o Autismo, o que realmente funciona para este público.

A revisão mais recente foi publicada em 2020 (AQUI), com uma versão oficial em língua portuguesa (AQUI) e cujas 28 práticas efetivas apresentadas foram definidas e exemplificadas em um livro gratuito publicado pelo Movimento Capricha na Inclusão, defensor da utilização das Práticas Baseadas em Evidências na Inclusão Escolar das crianças com Autismo, os textos são de autoria do Prof. Dr. Lucelmo Lacerda, um dos membros da Luna ABA e do Prof. Dr. Paulo Liberalesso, Neuropediatra, Mestre em Neurociências e Doutor em Distúrbios da Comunicação, o livro está disponível na internet (AQUI).

Aqui vai a relação de quais são estas Práticas Baseadas em Evidências:

  1. Intervenções baseadas no antecedente
  2. Comunicação Alternativa e Aumentativa
  3. Intervenção Momentum Comportamental
  4. Cognitivo Comportamental/ Estratégias de Instrução
  5. Reforçamento Diferencial de Alternativo, Incompatível ou Outros Comportamentos
  6. Instrução Direta
  7. Ensino por Tentativas Discretas
  8. Exercício e Movimento
  9. Extinção
  10. Avaliação Funcional do Comportamento
  11. Treino de Comunicação Funcional
  12. Modelação
  13. Intervenção Mediada por Música
  14. Intervenção Naturalística
  15. Intervenção Implementada por pais
  16. Instrução e Intervenção Mediadas por Pares
  17. Dicas (Prompting)
  18. Reforçamento
  19. Interrupção e Redirecionamento da Resposta
  20. Autogerenciamento
  21. Integração Sensorial
  22. Narrativas Sociais
  23. Treino de Habilidades Sociais
  24. Análise de Tarefas
  25. Instrução e Intervenção Assistida por Tecnologia
  26. Atraso de tempo
  27. Videomodelação
  28. Suportes Visuais

Para quem quer aprender mais, lançamos uma Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva Baseada em Evidências, com turma começando agora: https://www.cbiofmiami.com/pos-educacao-inclusiva-tea

Também lançamos um curso sobre Plano Educacional Individualizado para estudantes com Autismo ou Deficiência Intelectual: https://www.lunaead.com.br/comintroducao-ao-plano-educacional-individualizado-pei-para-alunos-com-autismo-deficiencia-intelectual-ou-quadros-associadoso-resolver-problema-e-alcancar-resultado

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